sábado, 25 de dezembro de 2010

Os Sertões dos Anos 2000- Crítica Ricado Araújo J C


Como adaptar um clássico da literatura brasileira e ainda assim conservar os louros de uma eficiente publicação? Além disso, adaptar um clássico não pela primeira vez, mas um que já teve inúmeras tentativas no cinema - porém não muito bem executadas. Simples! Se desprendendo ao máximo da obra.

É o que fizeram Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa, roteirista e desenhista, respectivamente, no quadrinho Os sertões - a luta, que tem lançamento nesta terça, às 20h30min, no bar Tutti Giorni (Borges de Medeiros, 788). Como o próprio nome sugere, o livro é uma releitura do livro Os sertões, de Euclides da Cunha, publicado originalmente em 1902.

A tarefa de condensar cerca de 400 páginas em 80 que mesclam texto e ilustração assustou os autores no princípio, mas a decisão de imprimir liberdade sobre o texto foi fundamental para a realização do trabalho. "Pensei muito no que se falava de que Os sertões era inadaptável, mas ao mesmo tempo acho que é uma narrativa com carga visual muito forte, então encaminhei para uma abordagem mais livre. Não acredito naquele tipo de adaptação meio álbum de figurinhas, que tu ilustras e colocas o texto literalmente. Adaptação é mais do que isso", enfatiza Ferreira.

Usar a obra, mas sem repeti-la, resultou em alterações da narrativa. O personagem principal nos quadrinhos passa a ser o próprio Euclides e o foco passa a ser, além da visão do autor, toda a história referente a Canudos. Para isso, Ferreira e Rosa viajaram para a Bahia onde ficaram três dias conversando com habitantes, estudiosos da revolução e visitando o palco de algumas batalhas. "É importante vivenciar o lugar porque dá um apego sentimental maior com a obra, há outro envolvimento, tu te aproximas mais daquilo tudo", recorda o desenhista. A viagem ainda rendeu o contato com cadernetas de anotações do próprio Euclides e uma vasta pesquisa sobre a Guerra de Canudos - que se apresenta em contextualizações históricas de alguns personagens criados especialmente para os quadrinhos.

O contato com quem vivenciou os embates e a possibilidade de pisar no mesmo solo onde sangue foi derramado foi essencial para incentivar e possibilitar uma liberdade na hora de pensar as narrativas. "Na serra do Campaio, onde aconteceu a segunda batalha, tu podes ter uma separação de tempo, mas, de alguma forma, estando lá tu acabas se impregnando na história. Depois para escrever fica mais fácil, tu entendes a geografia, o clima, imagina a cena exatamente no lugar em que tu estavas", recorda Ferreira.

Originalmente dividido em três partes - A terra, O homem e A luta -, para a adaptação o foco esteve principalmente no último trecho da obra. O motivo da escolha se deu pela narrativa do autor. Primando pela descrição - já que o próprio Euclides esteve em Canudos como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo -, Os sertões apresenta pouco diálogo e contextualização dos personagens. Visto que a linguagem dos quadrinhos prima por estes artifícios na sua concepção, adequar o texto de Euclides foi a maior dificuldade de acordo com Ferreira: "Esse foi o momento mais complicado. Eu radicalmente abandonei em muitos momentos a linguagem dele como literatura para usar a minha própria literatura do quadrinho. Existem muitos elementos visuais na obra do Euclides que ao invés de serem registrados como textos, ficaram grafados na imagem."

O sucesso do quadrinho é justamente se assumir como adaptação, uma produção independente da obra. Fato desde o início compreendido pelos autores que afirmam que a nova publicação não substitui o livro de Euclides, mas sim o complementa. "Ele não deixa de ser Os sertões porque existe apropriação literária, de trechos mesmo. Tem a visão do Euclides, mas tem o processo da própria história de Canudos", conclui o roteirista.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

domingo, 5 de dezembro de 2010

O livro pronto!



Ôpa! Li a HQ OS SERTÕES, hoje. Gostei bastante e li como se não conhecesse os autores, com o prazer que leria um Tardi. Achei ousado colocar aquele sonho/delírio. Creio estar sendo lançado no momento oportuno, tendo em vista que não é difícil fazer um paralelo do texto com o que aconteceu recentemente no Rio. Aliás, inclusive, já ouvi dizer que a formação das favelas no Rio tem muito a ver com Canudos,eis que haviam sido prometidas terras aos soldados que se aliaram ao governo, as quais nunca foram entregues, o que fez com que os soldados sentassem acampamento nos morros cariocas, até que foram ficando, ficando, e nunca viram um pó sequer das prometidas terras. Confere isso? Veio a calhar! Parabéns aos autores!

Leandro Adriano

domingo, 26 de abril de 2009

domingo, 14 de dezembro de 2008

Pé na estrada- Deixando Salvador

Uma das paisagens que chamou a minha atenção em Salvador foi um shopping e um templo de uma igreja pentacostal. Duas construções anti tudo, nada a ver com Salvador, Bahia, segundo o que eu projetava no meu imaginário. Essas duas anti bases em uma confraria de abusos apelativos de consumo e deus.
Essa Salvador nada tinha da Salvador do dia anterior. Era um fungo. Pensei em Antônio Conselheiro vendo que o sertão virou um mar de alienados. Chamou a minha atenção as duas construções por serem desproporcionais monstros, engulindo gente de tudo que era lado. O que o povo buscava ali? Que tipo de prazer? Juro que eu não entendo. Tá em um shopping eu até entro, as vezes, mas vou direto para as livrarias, ou quando as minhas roupas falecem eu vou comprar novas e um cinema básico já que acabaram com os cines de calçadas em Porto Alegre e no resto do Brasil.
A vida humana vai se desgastando. Nós, brasileiros estamos cansados e no maior desinteresse por qualquer coisa, nem futebol presta. Nunca fomos tanto no automático, mas ainda estamos vivos, zumbis, mas vivos. E quem quer mudar alguma coisa, dar algum sentido, é derrotado na loucura. Sim, estamos presos na caverna. Cegos, Saramago. Mortos, Conselheiro.
O Rosa e eu estamos já há um ano pós essa viajem aos sertões. Nossas cabeças confabulam outros projetos, esses são individuiais e outros em conjunto, normal, sempre foi assim...mas ainda estamos presos no Os Sertões. Tenho lido muitas coisas a respeito do que anda rolando com a nossa editora Ediouro, sobre o selo Agir, e sobre outras editoras que foram compradas pela Ediouro. Falo da Desiderata, Pixel que estão em banho maria. Nós, com Os Sertões, de certa forma, até estamos na geladeira. Sendo sincero, antecipando um pouco as coisas que eu falaria aqui em um outro momento... essa relação com a Ediouro é rara. As coisas andam bem incertas, aguardamos o Rosa e eu certas definições editorias para saber o que de fato vai rolar.
Sinto que existe no ar uma anciedade de vender quadrinhos de uma forma rápida e com lucro garantido. As grandes editoras não querem preju, e como diz o Rosa:
"Quadrinho nacional não vende".
Será que Os Sertões precisa virar uma versão mangá como a turma da Mônica adolescente? Essa é a receita de fama e fácil vendas?
Lembro quando eu estava na periferia de Salvador e olhava para as gigantes favelas, eu pensei que para aquela gente, talvez para o Brasil inteiro pouco importa Os Sertões, os quadrinhos, cultura...que porra é essa?
Talvez o Rosa tenha razão em dizer que quadrinhos brasileiros não vende, não existe porra nenhuma de mercado, nunca vai exitir. É mínina a quantidade de gente que lê nesse país, eu mesmo quase não compro quadrinhos. Nem quero, torro grana em dvds e livros, quadrinhos só em saldos na feira do livro de Porto Alegre ou em sebos. Mas sou louco enquanto escrevo e faço quadrinhos, acredito que o Rodrigo também. E quando produzimos estamos dando o nosso melhor, a narrativa é o que mais laburamos com textos e desenhos de uma forma precisa, sem buracos e sem explicar muito. Vi que com Os Sertões atingimos uma puta maturidade como artistas e autores. Concluímos a nossa parte no livro, mas há uma nuvem negra no horizonte.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Pé na estrada- 02.

" 9 horas e 30 minutos da manhã. Estamos os dois gaúchos fazendo compras no supermercado. Protetor solar, chocolate, bolacha, água e outros suprimentos malucos. Isso às pressas para poder chegar em Nova Canudos antes do fim do dia. Parece que a estrada é terra de ninguém, uma bandidagem dos filmes do Leone.Não tem perdão. Vai ser o Rodrigo Rosa o piloto. Caumóvel, a sucata da emoção e aventura, só falta falar como o Horbie."

" 10 horas e 44 minutos. Chegamos e colocamos as nossas mochilas no carro. A dupla gaúcha nos Sertões. Vamos deixar Salvador e seguir o rali até os confins do inferno de Conselheiro. Imagino que o Rogério deve estar entre as pernas daquele docinho de côco da..(qual é mesmo o nome da menina?). Por isso que o cabra não atendeu o telefone."

" 11 horas. O Rodrigo liga o motor do carro. 11 horas e 1 minuto o motor apaga. Que merda! Cadê o mapa? Vamos morrer! É certo."

" Nisso surge do nada um possante carro negro, com ar condicionado e vidros fumê. Técnologia de ponta. A porta do carro abre feito Ark II. Lá dentro o Rogério."

Rogério:
- Tão prontos?

" Mudamos de carro. Salvos pelo gongo. Bagagens mudam de bagageiros. Entramos no carro ao som dos Pixies. A coisa vai ser séria."

Rogério:
- Precisamos localizar o Daniel, o dono desse carro, aqui, e vamos, bandidos!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Pé na Estrada- 01

Acordei com o Cau dizendo:
“E aí, gaúchos? Não vão para o sertão?”

Esse sou eu:
“ Puta-merda!!! Que ressaca!!!”

Cau:
“ Bicho...são seis horas da manhã. Tá um sol lá fora.”

Eu:
“Rodrigo, como nós iremos?”

Rodrigo:
“ Ahhh... Não faço à mínima.”

Cau:
“Ok, manés. Eu empresto o Caumóvel. Sabe dirigir, Lênin?

Para o Cau eu era a lata do Lênin.

Eu:
"Só filmes."

Rodrigo evitava a luz do dia com o braço sobre os olhos:
“ Cara, eu falei pro Rogério nos ligar.”

Sábio zen Cau:
“ Bicho, por que não ligam para ele?”

Eu:
“ Concordo com o Cau.”

E ligamos para o Rogério. Ligamos seis vezes.

Rodrigo:
“ O Rogério comentou na festinha que não eramos para nos preocupar com isso, esse detalhe ele resolveria...”

Mas depois de dez chamadas para o celular dele o desespero começou a tomar conta da gente, sem falar a maldita ressaca. Que noite!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Próximas postagens:

Pé na Estrada.
Paisagens dos Sertões
Hotel em Nova Canudos.
Surpresa na Caatinga.
Videos, muitos videos!

Por favor, amigos...Não percam, não deixem de ler.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Descontração Baiana

Comprei o livro. Comprei mais cinco álbuns em quadrinhos, dois desses álbuns eram álbuns que eu pensava como referências de desenhos e climas, mais tarde eu vou postar as capas desses álbuns, por enquanto vou manter um mistério sobre esses.
Demos muita sorte naquele sebo. Tivemos um dia de muito trabalho e ventura. À noite lá fora nos provocava fome. Feito às compras nós três partimos. Agora o nosso destino seria comer, descansar, fazer novas amizades e beber umas cevas.
Rogério veio com a idéia de programar uma festa, uma jantinha na casa dele. Por que não? Saímos do centro de Salvador na pernada e mudamos a freqüência da aventura. A minha mochila carregava diversos livros e dvds. Os ingredientes exóticos do bolo. Eu louco para começar a ler o caderno de Euclides, mas vamos para festa, vamos para a janta.
Caminhamos horrores. Subimos e descemos ruas. Curvas, ladeiras e calçadas apertadas. Em Salvador estão todos nas ruas.
Entramos em um supermercado. Compras foram feitas. Uma amiga do Rogério faria um feijão marroquino. Hum... Comida, amiga... Compramos as bebidas. Chegamos a casa-apartamento, eu lembrei de Buenos Aires por que vivi lá em uma apartamento parecido. Prédio antigo. Cara, como eu estava nojento de tanto suor...
“Por Favor, eu preciso de um banho.”
Descemos as escadas do edifício, seguimos um corredor. Rogério tira a chave do bolso e abre a porta do apê-casa.
Foi o momento de deixar Os Sertões de lado, abrir uma cerveja gelada, um Santana foi convocado para nos levar ao centro da paz. Ganhei uma toalha e fui para o pátio, o banheiro fica lá no fundo, um lugar de dar medo. Calor do Cão! Sem luz, a água caia direta do cano, maravilha de gelo. Fiquei ali por um tempo indefinido. Cerveja, Beck e banho. O que mais faltava?
Risos femininos. O cheiro do feijão. A festinha começava lá fora.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Parte 26

A chuva fina retornou no crepúsculo. O formigueiro humano não se dissipou, mais uma vez a neblina. Mais uma vez, nós três, cafalhões percorrendo os labirínticos becos e ruelas. Eu olhando os telhados e torres do Pelourinho. Um desenho dessa fantástica arquitetura no meu imaginário: O céu vermelho pálido filtrado com os pingos agulhas da chuva. Um plural de cores da cidade viva.
Eu, ali, mesmo sendo brasileiro, era mais que um estranho estrangeiro. Um espectro em Salvador.
Ninguém daquela gente sabia por que eu trafegava as ruas e nem se importavam com isso. E em Porto Alegre eu não existia. Um quadro surrealista com marcas das pinceladas e texturas. Eventos e situações diversas e contraditórias.
Eu busco um sentido oculto, uma conspiração factual para saber exatamente porquê. Afinal, por quê? Qual é o verdadeiro sentido de receber esse convite profissional? Para que serve uma adaptação para quadrinhos de Os sertões?
O que eu quero dizer é: A Guerra de Canudos é mais que literatura, é mais que história. É vida. Vida e morte. Mitologia pura, mitologia brasileira, mitologia universal sobre a força e a fraquesa humana e suas contradições. O que aconteceu em Canudos é como um arranhão em um disco de vinil para a humanidade. O som se repete como um eco. A mesma frase, ou verso cantado em ruptura. Ordem natural. Canção.
Há agora a mesma épica tragédia no Iraque. A sombra da desgraça na África. Em tantos lugares e épocas a lei selvagem e corrupta. O lado mais informado, rico, tecnológico, supostamente civilizado se volta contra o lado mais pobre, primitivo. Mas a humanidade é de aparência fraca. Um punhado de homens, mulheres e crianças mal alimentadas sempre serão feridas abertas.
Aqui vou entregando a raiz do drama do livro. É necessário queimar as páginas, a encadernação, as edições, principalmente o discurso crítico e as cifras. Voltar a ouvir o eco dos mortos na chacina. Ouvir a terra. O assobio do vento seco. Ver os fantasmas, suas vidas e crenças.
Está tudo conectado. Ar, raiz e terra. Precisou morrer uma nação para eu ser descoberto por uma editora e descobrir o real sentido de eu escrever essa adaptação. Não quero ser mais um que não fala nada e se cala. Não quero defender uma estética sem conteúdo. Não penso em ser só um corpo em movimento programado e não saber o que é subtexto.
A chacina no sertão, de certa forma, financiou esse meu devaneio e passos nas ruas de Salvador. Esse meu louco monólogo.
A chuva foi um batismo, uma transmutação. Evento místico. Agora o monstro só ficará mais louco. As vozes fantasmagóricas dessas personagens foram ouvidas. Almas partidas na faca, nas balas e nos tiros de canhão.
O nordeste é uma entidade de religiosidade selvagem e viva. Explode o seu passado nos rostos. Foi o que eu vi em Salvador, naqueles que passavam vivos e mortos por mim.

“ Agora eu estou pronto para a jornada até o sertão, pronto para ir onde viveu e morreu Canudos.”

Rogério nos esperava na porta do sebo. Ele chegou lá com passos mais rápidos e uns trinta segundos antes. O sebo era de um amigo dele. Rodrigo, esperto entrou e olhou tudo, olhos atentos nos livros e já saiu perguntando por tudo que interessava. Por Antônio Conselheiro, por Euclides da Cunha...
Eu ainda era um habitante do meu mundo surreal. Eu estava cego e não prestava a atenção em nada. Eu aguardava um sinal, uma revelação que veio com o voz do Rodrigo.
“ Cara, olha ali o diário de expedição do Euclides da Cunha.”

sábado, 11 de outubro de 2008

Parte 25

Lembro que seguimos por um beco. Uma chuva fina e uma certa neblina no ar. O Rogério, Rodrigo e eu desviando das gotas embaixo das marquises. Os nossos passos eram apressados. A conversa do Rogério e o Rodrigo parecia um dialéto esquecido pelo tempo. Eu realmente me deixei levar pela imaginação. Fantasiei as impressões que Euclides da Cunha teve de Salvador. Transmigrei a minha visão para o passado, para um vórtice como na série "O Túnel do Tempo". Então, lá estava Euclides da Cunha caminhando entre os trausentes, o seu espectro atravessando o mulato artista dos retratos de acrílica, o escritor de Os Sertões mergulhava no corpo da baiana do acarajé. Ele seguia indiferente na chuva, passos mais rápidos que os nossos, vi que em suas mãos tinha um caderno de couro. Batidas ritmas dos seus dedos imitavam a música cabocla. O olhar dele capturava tudo, homem de olhos infantil parecia escrever com a visão.

"Carlos...Carlos...Em que planeta tu tá?"

Estávamos agora os três olhando o mar. Próximo de nós um museu, fui parado por um tipo estranho e já fui avisando que eu não tinha dinheiro. Mas ele disse que não queria dinheiro, mas queria me dar um colar. Colocou o colar multicolorido feito com sementes no meu pescoço. Rogério disse para eu ter cuidado. O sujeito estranho seguiu a sua viajem e se misturou no formigueiro humano.
O sol tímido nas nuvens prenunciava o fim de tarde. Parou de chover.
Entramos no museu e lá havia uma exposição sobre Canudos. Diversas fotografias de Flávio Bastos, jornais da época, fardas, trajes, e um caderno de couro aberto revelando as anotações originais de Euclides.

" Precisamos encontrar um sebo, Rodrigo."

domingo, 5 de outubro de 2008

Parte 24

Saímos da escadaria e seguimos nas ladeiras do Pelourinho. Como não lembrar de Caribé, de Hugo Pratt? Como não pensar em meu pai? Salvador é mágico, é sensorial e é uma babilônia viva de multicores e olhares. Eu parecia estar chapado de marijuana, acho que nunca estive tão sereno e calmo. Provavelmente eu estava chapado de marijuana... Já que a cidade cheira a marijuana.
Eu tinha a sensação de que cada esquina ou rua que seguíssemos, o realismo fantastíco abriria as suas portas para o céu. Foi o que aconteceu quando entramos em um sebo e nos deparamos com o diário de expecição de Euclides da Cunha.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Investigadores



Ok, passei um tempo fora. Muitas coisas vão acontecendo e eu vou seguindo o curso da maré para sobreviver. Mas não estou desistindo desses e dos outros blogs, gente. Vou no meu tempo.

Ok, vamos aos bastidores de Os Sertões...
Essa foto foi tirada em um dos pontos altos da viajem. Nunca vou esquecer Salvador, nunca vou esquecer de estar onde começou o Brasil. Foi nessas escadarias da igreja que filmaram O Pagador de Promessas. Foi ali que eu tive a certeza de querer fazer um clássico dos quadrinhos. Tenho a certeza que o Rodrigo entrou na mesma pilha. E muitos meses depois, um ano após ter assinado o contrato, eu posso garantir que fizemos de tudo para isso. Basta esperar e ver se a nossa editora estará na mesma batida.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

parte 23

"O Coração das Trevas. Há uma transposição da mitologia de Canudos na literatura de Joseph Conrad. Capitão Kurtz é uma transmigração de Antônio Conselheiro para o Congo. Louco, não?

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Parte 22

Saímos dali com diversos livros e dvds sobre os Sertões. Saímos satisfeitos e arrasados. Acho que foi uma das vezes que pensamos sobre a sorte que tínhamos de sermos os realizadores desse livro. Rodrigo e eu conversamos em um boteco que não queríamos brincar com essa adaptação.
" Não será mais uma dessas adaptações pensando em fazer redondinho, fácil e bonitinho."
" Sim, temos que ser um plus a mais.Mas como?"
" Vamos ter que dissecar essa obra, Os Sertões. Eu acho que devemos visualizar o Brasil, Bahia, Salvador, o sertão Baiano, Canudos, a guerra que Euclides enxergou."
" Boa idéia."
" Tem um livro que é peça chave para o nosso, esse livro nasceu na mesma época que "Os Sertões", ele é inspirado em Canudos, sabia?"
" Tá que livro?"

domingo, 24 de agosto de 2008

Charla com Antônio Olavo.

Encontramos a galeria. Uma pequena galeria em Salvador com uma livaria da editora. Nas estantes livros e dvds sobre Canudos e outros assuntos filhos e primos. Olavo, um baiano típico, boa gente, mestiço e magro. Calvo como eu. Jeito centrado e objetivo. Rodrigo e eu entramos na editora-livraria e o comprimentamos. Ele já nos esperava e estava bem curioso com o nosso projeto. Reparou no bloco de desenhos na mão de Rodrigo e já pediu para ver os desenhos. Não simpatizou com o jeito carrancudo dibujado. Rodrigo explicou que eram os seus primeiros estudos. Então, eu resolvi explicar a direção que seguiríamos. Antônio ouviu os detalhes e a deu sugestões. Nos apresentou a sua ótica sobre Canudos. Lá não se tratava de um local liderado por um louco, mas por um visionário. Esquecemos os detalhes místicos sobre Antônio Conselheiro e nos concentremos que são fatos da vida e não história, nada ali, em Canudos, foi premeditado, mas foi uma força de dizer basta ao que há de mais miserável na humanidade: O preconceito, uma luta de classe social, racismo, um distânciamento do que a ordem e progresso construiu depois. Eram um grupo de pessoas que buscavam um ideal de melhor vida no lugar mais distante possível. Busvam a sua terra prometida para serem todos iguais, sem escalas de pobreza e riqueza, mas sim de fraternidade. Uma utopia, sonhada utopia.
Nunca poderia dar certo.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Parte 21

Antônio Olavo foi um grande professor para nós. Depois daquele bendito almoço que nos curou da ressaca, nós, Rodrigo Rosa e eu, saímos apressados, perdidos e cômicos nas ruas de Salvador. Buscávamos a Portfolium um peculiar projeto-editora-produtora sobre a cultura da Bahia. Nada superficial, ou com cara de turísmo, mas sim o que podemos chamar de a verdadeira busca antropológica e histórica sobre a história brasileira. Realmente é de grande importância esse projeto Portfolium coordenado pelo Antônio Olavo. Mostrou ser um grande acerto essa investida para Bahia.
Digamos, que institivamente sabíamos a direção para Canudos, para Os Sertões. Mas foi com o Olavo que tivemos a confirmação do nosso destino.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Parte 20

Depois da cervejada... um peixe. Nossa! Um dos melhores almoço da minha vida! A cozinheira do Cau é show! Dona Maria fez um peixe, uma lentilha e salada de doer de bom. Ficamos cheios de energias e curado de qualquer ressaca. Próximo passo foi começar de vez as investigações.
Rodrigo e eu saímos com um mapa, descemos a ladeira e fomos entrevistar um dos maiores pesquisadores de Canudos.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Qg Cau



Nossos heróis preparam a jornada para aventura. Cau Gomez e Cao Ferreira

terça-feira, 15 de julho de 2008

Parte 19

Eu em Porto Alegre sentia uma distância temporal de mais de um século de Canudos, mas em Salvador isso começou se dissolver. Era visível o sofrimento e indignação nos rostos que eu capturava sob o meu foco de visão. Cada rosto do povo era uma marca represada e hereditária dessa angustia submersa. Direta e indiretamente um eco de uma liberdade almejada, mas nunca atingida. Posso dizer que naquela manhã eu comecei depois de trinta e sete anos, a entender o que é a minha brasileiraridade. " Salvador...foi aqui onde tudo começou. Os primeiros visitantes europeus pisaram neste mesmo chão. Santa Cruz começou aqui, Brasilis, brasas do Diabo. Bafo do inferno. Sim, esse é o nosso país, o pau Diabo. Pau mandado do Diabo, ou pau do Diabo. As caravelas chegam com o que existe de mais podre dos sentimentos humanos. Séculos depois basta olhar tudo envolta, seguir caminhando nas ruas, ouvir as tevês ligadas e sentir a corrupção, a violência e a mentira. Quanta merda é vomitada por dia? Quantas mortes ainda prosseguem dessa guerra?" Aí eu já estava um pouco bêbado.
Rodrigo perguntou:
" Em que mundo tu tá, sonhador?"
" No Brasil."

domingo, 13 de julho de 2008

Parte 18

"Cara de sapo!"
Foi o que ele disse. Eu ainda não conhecia essa expressão. Mas com o olhar que ele dirigia para o outro lado da rua, vi que se tratava de uma mulher ou de um detalhe de uma mulher.
Eu disse:
"Cara de Sapo? Mas o que significa?"
E o marinheiro ri.
"Nunca provou uma cara de sapo?"
E Cau fala:
" Esses são amigos meus lá do sul. São gaúchos. Esse é o Rodrigo e o Lenin ali é o Carlos. São desenhistas e vão fazer uma história em quadrinhos sobre a Guerra de Canudos."
" Canudos?"
A vez do Rodrigo:
" Sim, estamos adaptando Os Sertões para quadrinhos, viemos fazer pesquisa e pretendemos ir até Canudos."
" Canudos? Mas Canudos não existe mais... tá embaixo da água."
Rodrigo continua:
" O Senhor sabe como é lá? Já esteve na região?
" Nunca, não sei nada não. Mas sei que foi palco de desgraceira e que essa desgraceira persite aqui na Bahia até hoje. O povo ainda morre de fome".

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Parte 17

Nenhuma estratégia. Nada de Ordem. Nada metodico. Foram dois quadrinhistas gaúchos com a pretenciosa idéia de investigar e pesquisar o sertão da Bahia em busca de informações reais sobre a Guerra de Canudos, Euclides da Cunha e Antônio Conselheiro.
Acordei naquela quinta-feira na exata 24 horas pós saída de Porto Alegre.
A primeira coisa que Rodrigo, Cau e eu fizemos foi buscar um boteco aberto para mais uma rodada de cerveja. Uma rodada leve. Uma cerveja antes do almoço é muito bom para ficar pensando o melhor.
Saímos do apartamento do Cau e começamos a descer ruas que pareciam serpentes em movimento. Um zigue-zague para lá e para cá. Paramos em uma garagem transformada em boteco. Um tiozinho clássico, sem camiza e calção adidas paraguay, pinta de marinheiro que já viajou por todos os cantos do universo, mas que agora tinha encontrado o seu lugar. Aquele boteco fedia horripilantes, contraditórias e engraçadas histórias. O nome do velho era João. Nos serviu uma estúpida, mas põe estúpida cerveja gelada no calor humido quente e disse:

terça-feira, 8 de julho de 2008

Parte 16

Caminhamos até o estacionamento do aeroporto. Entramos no Caumóvel. Fogo saindo da turbina. Alta velocidade nas avenidas. Um calor do cão, céu nublado, 1 hora da matina à procura de um boteco.
Essa era a minha primeira vez em Salvador. Cidade mitológica para o meu pai. Eu fui absorvendo as favelas, as curvas e o que via do povo na rua. Os guris hablavam. O quê? Puxa, eu não lembro, mas acho que fazíamos um resumo de um pouco de tudo, sobre o projeto, Porto Alegre, Salvador, a viajem.
Essa foi a primeira vez que conversei com o Cau. Nós ainda não nos conhecíamos. Rogério eu já conhecia. Uma vez ele foi hóspede do Rodrigo. Na época que o Rodrigo morava no mesmo prédio que eu. Rogério é um sujeito peculiar. um dos grandes cafas, é mestre.
Deu saudades desses chapas!
Achamos um boteco. Tomamos uns tragos. Olhos caçadores buscavam as flores baianas. O cérebro super ligado. Rogério já se entrelaçava ali mesmo. Ceva vai e ceva vem. O restante do esquadrão com fome. Comemos uma muqueca bem apimentada em um outro bar. Cadê o Rogério?
Caso você tenha entrado neste blog à procura de um texto mais objetivo e técnico sobre Os Sertões... Amigo, endereço errado. Aqui esses momentos de amizade contam no processo de criação do livro.

domingo, 6 de julho de 2008

Parte 15

Então...a aventura começou. Fomos em companhias e aviões diferentes, mas embarcamos no mesmo dia. Rodrigo viajou duas horas na minha frente, mas ficamos em contato por celular. Eu fui depois por que tinha que receber um cachê antes e precisava dessa grana para a viajem. Aproveitei umas barbadas que tenho em uma dessas empresas aéreas brasileiras e comprei passagens para Salvador, São Paulo e Florianópolis. Eu tinha objetivos e missões diferentes em cada uma dessas cidades e em seus respectivos estados. Isso foi em novembro de 2007.
Missão Salvador:
Pesquisar sobre a chegada de Euclides da Cunha em Salvador, descobrir detalhes sobre o processo de pesquisa que originou o livro Os Sertões. Ir em museus e entrevistar os pesquisadores e antropológos especializados em Canudos. Juntar o maior acervo possível de imagens da guerra de Canudos e do exército da República. Fotografar e fazer videos da região.

O meu avião decolou e durante um mês vivi uma intensa aventura. Por favor, não façam a imagem do Rodrigo e a minha como uns Indiana Jones, estamos mais para uma versão tupiniquim de Homer Sinpson e Salsicha em Queimando Tudo. É sério, viajar com o Rodrigo é uma das experiências mais engraçadas que eu conheço. O cara é um baita parceiro e uma grande figura.

Antes de chegar em Salvador eu fiquei umas doze horas fazendo conexão em São Paulo. Doze horas perdidas em Congonhas e Guarulhos. Como era uma quarta-feira, os meus amigos em São Paulo estavam trampando... eu só liguei para a minha amiga de fé Carolita, para contar as novidades e dizer sobre a aventura. Ver se seria possível uma jantinha, mas o meu prazo na cidade era curto, os nossos horários não correspondiam. Fiquei em Guarulhos até umas 22hs e 30 mins, depois outra vez no ar.
Quando o avião pousou estavam a minha espera todo o esquadrão: Rodrigo Rosa, Cau Gomez e Rogério Ferrari. Na minha cabeça de maluco começou a tocar uma trilha sonora de Ennio Morricone. The Good, The Bad and The Ugly.

domingo, 29 de junho de 2008

Cau Gomez



Brilhante cartum do mestre mineiro baiano!

Rogério Ferrari


Essa fotografia é uma mostra da arte do gênio Rogério.

Parte 14

A brilhante idéia de ir para o sertão da Bahia foi do Rogério (logo vocês vão saber quem é essa personagem).
“Cara, o Rogério disse que devemos ir para a região de Canudos. O que acha?”
“Rodrigo, sou parceiro dessa aventura”.
“Tenta ver com a editora se eles nos pagam a viajem”.
“Rodrigo, não viaja”.
“Não custa tentar”.
Eu enviei um e-mail já sabendo a resposta. Não houve resposta desse e-mail. No seu caderno de desenhos, Rodrigo fazia esboços de Antônio Conselheiro. Esses desenhos eram bem bacanas, mas sabíamos que ainda não tínhamos achado a essência do personagem. Geralmente Antônio Conselheiro é representado como um clichê de beato louco, mas nós, Rodrigo e eu, não queríamos seguir essa visão careta. Longe de nós essa caricatura de José Wilker chapadão de cactos e com dor de barriga.
Queríamos o nosso Conselheiro, um ser humano, buscar o homem comum, a história clássica brasileira criou o clichê louco Conselheiro, vejo que uma das nossas missões era derrubar essa visão e tentar trazer para o livro a memória popular que o povo nordestino tem do seu Conselheiro.
Convenci o Rodrigo que devíamos para de esperar uma resposta e seguir com o plano da viajem. Rodrigo fez contato com os nossos parceiros em Salvador. Eu Falo de Rogério Ferrari e Cau Gomez.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Ruptura

Eu não sei o que me passa, mas sinto neste exato instante uma grande vontade de gritar...

Estou convencido que jogo o jogo errado, o problema é que esse jogo possui regras sujas... e parece que a verdade importa para poucos. Seria isso uma teoria de conspiração das mais paranóicas? Estarei eu louco? Confesso que me sinto perdendo a juvenil paixão por fazer quadrinhos, já não tenho o tesão de entrar no meu estúdio e desenhar. Sigo fazendo desenhos, textos e filmes. Mas é quando eu paro para compor no computador, é quando eu crio as minhas músicas, que eu sinto prazer. Quando queremos respostas sobre o processo de criação, quando queremos público, queremos na verdade os sons. O urro da multidão se propagando para a expansão do universo. Talvez seja por isso que eu sinto prazer com a música, por que quando eu crio música eu desenho um gráfico no programa que uso e a resposta vem, o som passa e sou absorvido por camadas e camadas de texturas que trazem uma resposta subjetiva a minha alma. Eu que me considero um ateu, confirmo aqui que tenho alma por que no fundo é para isso que crio. Para sentir a textura da minha verdadeira essência, me desprender do tempo e espaço. Um jogo de ego, um ego-caos. Uma comprovação que eu estou vivo. Estou aqui. E tudo que eu crio é um sinal para aquele monolito negro que vi vagando no espaço no filme 2001. Claro que trato esse monolito como metáfora, dizem que os cientistas estão tentando criar o silêncio absoluto em um laboratório. Talvez seja a busca perfeita para a humanidade, já que estamos no ápice da era dos ruídos.
Estou convencido que perdemos o jogo...voltando falar sobre quadrinhos, estou convencido que o que importa nesta era de ruídos são as embalagens, os grupos de boné e com os selos Marvel e Dc estampados no cu.
Pra quê? O negécio é forrar os intestinos de dólares e euro? Discutir como se deve fazer arte, enquanto o planeta vai armando as suas defesas contra essa espécie irresponsável que somos nós?
Qual é o sentido disso tudo? Qual é o sentido de desenhar e fazer super-heróis? Não quero expressar aqui que sou um santo, um alienado desse sistema corrupto. Sou mais um...mais um que falha e pensa em sempre melhorar, mas falha em deixar para o dia de amanhã.
Basta!
Para a corja eu digo que os seus dias estão contados.
Vão à puta que os pariu!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Parte 13

Não bastava ler só Os Sertões, a minha obsessão foi ler o máximo de livros sobre a Guerra de Canudos, devo ter lido uns dez livros sobre, Rodrigo algumas vezes indagava porque ler outros livros, digamos que eu queria ter uma visão abrangente de como foi essa guerra, como eram as pessoas envolvidas, a época e a região. Mas antes de qualquer coisa eu queria saber como fugir do trash filme “A Guerra de Canudos”. Alguém aqui já viu esse filme? É uma escola de como essa história não deve ser contada e tratada.
Rodrigo e eu fizemos uma sessão aqui em casa, deu até um certo desespero e vergonha de estar vendo aquilo. A música do filme é um porre.
Não há dúvida que Os Sertões serviu de base para o filme. Eu não tenho nenhuma dúvida que o filme é uma adaptação não oficial. E em certos momentos aquele exemplo de adaptação literal era um cacoete dos mais chatos.
Terminamos os dois de ver o filme com um ar de depressão. Rodrigo:
“Fodeu. Como é que tu vê essa nossa versão de Os Sertões, Carlos?”

Expliquei a minha teoria de Cronenberg e acrescentei:

“Vamos invocar Sérgio Leone. A narrativa tem que ser próxima dos filmes de Leone. O Começo tem que ter o mesmo peso de Era Uma Vez no Oeste”.

Alguém aqui já viu esse filme?

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Parte 12

“Naked Lunch! A Adaptação cinematográfica de David Cronenberg do livro de William Burroughs.” Ouvi a minha própria voz dizer isso enquanto eu dormia. Eu sou desses que cochilam para processar idéias. É outro dos meus hábitos: Tentar o máximo possível me distanciar da realidade comum, ir para uma espécie de sala de cinema dentro da minha mente e ser o primeiro espectador do que vou criar.
Cronenberg, na época que ele recém havia dirigido Naked Lunch, disse:
“ É basicamente impossível de adaptar Naked Lunch” - Almoço Nu, traduzido aqui no Brasil com o título de Mistérios e Paixões.
“Era muito conteúdo literário para 2 horas de filme, mas a adaptação tem que ser feita.”
“ A raiz do livro nasceu das entranhas e experiências vividas por William Borroughs, foi o que germinou o livro. É isso o que vou filmar.”
Cronenberg narrou na película o processo de criação do livro e fez um dos mais impressionantes filmes e fiel adaptação. Fiel não como passos marcados dos parágrafos para as celulóides, mas em essência e valor artístico. Cinema e Literatura são duas artes com linguagens diferentes. Toda adaptação cinematográfica que é quase uma transcrição do livro, eu acho no mínimo idiota. Todas essas falham como obras artísticas por que rejeitam explorar o potencial da linguagem cinematográfica como narrativa. Não basta pegar os capítulos, personagens e diálogos de um livro e ligar a câmera. O olhar e a leitura é o que tem força. A transformação que exerce o livro sobre o leitor é o que vale capturar na adaptação. Se não for esse o caminho, o melhor é desistir antes de começar por que a adaptação vai ser oca, vazia, apenas uma propaganda extensa de um livro, feito para aqueles que têm preguiça de ler a obra original. Acredito que essa regra é também para as adaptações da Literatura para os Quadrinhos.
Para começar o roteiro de Os Sertões eu capturei essa atitude do Cronenberg para mim. Parti para as pesquisas e...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A Maldição dos Maragatos- roteiro e direção de Carlos Ferreira

Parte 11

Recebemos o contrato, começamos a luta. Rodrigo voltou para o Brasil, ao mesmo tempo em que eu comecei diversos trabalhos que tinham a mesma escala de responsabilidade que Os Sertões. Entre esses um novo episódio para a série da RBSTV, Histórias Extraordinárias, a Maldição dos Maragatos. Outra vez a Revolução Federalista era pauta, a lenda tinha como uma das personagens o Moreira César. Uma personalidade do exército Republicano, comandou a Chacina de Anhatomirim. Anhatomirim é uma ilha, palco onde aconteceu o fim dessa revolução. Onde duzentas pessoas foram degoladas, enforcadas e fuziladas firmando a tirania do “Marechal de Ferro” Floriano Peixoto. Episódio histórico que mudou o nome da cidade de Desterro para Florianópolis. O Coronel Moreira César também liderou a terceira expedição para Canudos. Era também personagem de Os sertões.
A primeira coisa que eu fiz depois de assinar o contrato foi comprar o livro Os Sertões. Eu já tinha recebido um pdf do editor, lido o livro, mas precisava reler e fazer as minhas anotações. A primeira impressão que eu tive foi que era uma obra inadaptável. Eram 632 páginas de literatura para 62 páginas em quadrinhos já estabelecidas pela editora. E agora? O que faço? O Rodrigo e eu já tínhamos apresentado um teaser de dez páginas, foram reprovadas. Foi uma trabalheira fazer aquelas páginas. Mas bola para frente. Adaptar Os Sertões era uma missão impossível, mas...

Parte 10

Não. Os Sertões não foi uma proposta sem dinheiro, a editora Agir não queria apenas pagar os custos de impressão do livro. Foi uma oferta interessante, mas para uma produção conjunta ela não funcionava bem. A versão que fiz agradou uns, mas não outros do grupo editorial. O que a editora queria mesmo era ver Os Sertões igual aos Degoladores. Não só ritmo e narrativa, mas o traço. Então voltaram atrás e eu cansado, pois já tinham passado meses de negociação.
As páginas que eu apresentei foram consideradas “over”. Ainda não entendi o que isso quis dizer, mas tudo bem. Então, vi que o Rodrigo estava certo. Era necessário negociar e se impor com dignidade. Fiz uma nova proposta e estipulei um acordo entre a editora e nós. Aceitaram. O Rodrigo não acreditou que conseguimos vingar.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Parte 9

Enfim, Os Sertões.
O processo de negociação foi um labirinto. Rodrigo tinha ido viver em Barcelona, o nosso editor mora no Rio. Eu em Porto Alegre pré-produzindo outros trabalhos. Quando começamos a definir o valor para o projeto, cada parte falava uma língua. Produzimos páginas de mostra que não foram aprovadas e Os Sertões parecia escorregar sobre as nossas mãos. Rodrigo tinha desapegado, eu não. Sabem o que é ver a possibilidade de um sonho de décadas, que é o principal sentido da vida, ver esse sonho anunciar que vai acontecer e depois virar fumaça? Eu aguardo a realização de um álbum, como um adolescente virgem aguarda a primeira amante. O álbum é um livro! Uma referência real de um autor. Senhores, fazer quadrinhos pode ser divertido, um negócio para fazer grana na cabeça de muita gente. Principalmente nas cabecinhas desses desenhistas gado de curral dos caubóis gospel usuários de cueca sobre colante dos EUA. Mas para mim, fazer quadrinhos sempre foi algo mais nobre. Um processo metafísico, algo que dá sentido a minha existência. As energias que ponho em um projeto são de reflexão e transformação. Nunca pensei em realizar Os Sertões por grana. Claro que é importante também, mas tudo na vida é um segmento de eventos. Isso explica por que comecei a falar antes sobre a origem da parceria que tenho com Rodrigo e outras coisas. Em certo ponto houve um desgosto do Rodrigo com o projeto e ele pulou fora. Dando liberdade de eu decidir o que queria.
Imagino que quando se está na Europa diversos valores vão sendo questionados e vão mudando. Nós não somos mais guris, eu, por exemplo, sou pai de família e não posso me dar ao luxo de devaneios artísticos e fazer as coisas baratas, mas quando é feito um convite de tal proporção sabendo que eu não teria que arcar com custos... Decidi seguir com o projeto e a editora Agir queria a mesma coisa. Fiz a minha versão de Os Sertões.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

parte 8

Em 2001 foi ano que dirigi o meu primeiro curta-metragem. Phil. Dirigi junto com o Drégus e o Trein. Com essa experiência passei a dirigir para RBSTV, dirigi curtas e episódios para diversas séries. Histórias Extraordinárias, a Lagoa da Música, em julho de 2002, foi o meu primeiro episódio para a série. Lagoa da Música era uma lenda sobre uma lagoa assombrada em Hulha Negra, município próximo de Bagé. Nessa lagoa foram degolados diversos soldados republicanos na revolução Federalista. Pesquisando sobre essa revolução eu fiquei obcecado pelo tema das degolas. Fiquei com idéias e desenvolvi diversos textos sobre a revolução federalista, entre esses textos está o roteiro de “Os Degoladores”.
Novembro de 2006 o Rodrigo e eu fizemos um retiro para o sítio dos pais dele para criarmos páginas de storyboard como projeto de longa em animação. A referência de produção para esse storyboard era Dia dos Mortos. Eu faria a direção desse projeto de animação e ele a direção de arte. O projeto mudou e virou também um projeto para quadrinhos. O Rodrigo colocou parte do storyboard no blog dele. Bá e Moon viram as páginas e nos indicaram para a Editora Agir. Que coincidentemente buscavam desenhista e roteirista para adaptar Os Sertões. Então, o editor fez contato comigo e iniciamos a jornada para os acertos de Os Sertões.

Parte 7

2001. 11 de setembro. Explodem as torres gêmeas com os jatos. O mundo muda de vez. Surta. Antes disso a loucura já existia, mas era um outro tipo de loucura. Agora é esquizofrenia contra paranóia. Estamos vivendo uma época onde a terceira guerra começou dentro de cada um de nós. O mundo ficou fora da casinha e mesmo não tendo nada a ver, mas tendo, eu despertei. Cortei a membrana do casulo. É sério, de 1993 há 2000 foram os piores anos, mas ao mesmo tempo os melhores de uma fase antiga. Vivi os horrores que escrevi na ficção, tive atritos e momentos de puro pesadelo. Acho que nessa época eu descobri o pior de mim. Energias baixas e escuras. Mas sobrevivi. Cresci e aqui estou. Acredito que não fui o único que passou por esse cosmos. Outros parceiros também passaram e sabem exatamente do que falo. Em 1996 acabei até vivendo na Argentina, algumas bocas sujas diziam que eu havia fugido para o Paraguai. Vivi três anos em Buenos Aires. Acontece que conheci muitas coisas novas em Buenos Aires. O contato com essa cidade me fez ter uma maturidade artística. Busquei outros referenciais para os meus quadrinhos. Foi lá que eu comprei um livro que virou uma chave mágica para Os sertões.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Parte 6

"Dia dos Mortos" era o episódio final da primeira temporada da Menina Morango. Rodrigo e eu estávamos ministrando uma oficina de quadrinhos no colégio Mauá. Os encontros eram nos sábados, nas manhãs. Lembro dessa época ser cômica. Houve dias super engraçados, movidos a garotas, drogas e rock and roll. Tinha uma aluninha que era uma coisinha, o seu nome Suzana. Por coincidência é filha da minha professora do primeiro ano do primeiro grau, atual ensino fundamental. Chegamos até a ir ao cinema com ela e ver Batman Returns. Sessão hilária no finado cinema Baltmore 1. Nenhum dos dois panacas agarrou a mina. Bom, eu nem podia por que tinha namorada. Que picaretas! Aulas de quadrinhos para agarrar as mulheres. Melhor não falar sobre isso agora...
Acontece que de tanto falar sobre quadrinhos nessas aulas resolvemos arriscar e fazer uma hq totalmente no improviso na sede Rosa. Já éramos nessa época muitos amigos. E com certeza isso influenciou o resultado do nosso trabalho em conjunto. Temos muitas afinidades, uma forte admiração pelo quadrinho argentino. Fierro. Corto Maltese, Breccia, Torpedo. Muñoz e Sampayo.
Partimos para uma conversa sobre os nossos processos de criação e desenho. Uma vez o Vasques definiu que o Rodrigo era um desenhista de fatos e eu de clima. Isso foi mencionado, também falei de como desenhei a primeira história da Menina Morango. Experimentamos esse processo com o Dia dos Mortos. A idéia era desenhar um quadrinho e depois o outro sem ter um roteiro pronto. Seguir os planos desenhados e ver o que podia ser contado. Considero esse um dos melhores trabalhos. Em minha opinião, os desenhos do Rodrigo são os melhores. Saiu tudo no lugar certo. É um trabalho coeso, super climático e até mesmo poético. Sem ser piegas. Essa história foi a melhor experiência em conjunta. Acho que a grande força dessa unidade na parceria começa com a dedicação que temos em querer contar uma história com o pé no clássico. Rodrigo com o desenho e eu com o texto. Mesmo com a presença do surrealismo, expressionismo ou aquilo que alguns chamam de viajem; buscamos contar no ritmo certo com início, meio e fim. O que importa é contar uma história e não quem conta essa história.
Eu não lembro depois se vieram outras histórias curtas, acho que sim, mas inacabadas. Para ser bem sincero, eu quase não lembro o que aconteceu entre 1993 há 2000. Essa é uma época turbulenta na minha vida. Lembro que uma noite eu entrei no bar Garagem Hermética e foi como entrar na toca do coelho. Eu desci as escadas circulares até o inferno.

sábado, 12 de abril de 2008

Parte 5

A Peek-a-Boo era oposta da Made. Tinha unidade e calor. Usamos temáticas a cada edição. Acho que a primeira foi o crime, a segunda o surreal, a terceira às mulheres. Mas tudo acontecia de uma forma sutil. Eram histórias que flertavam mais com a literatura. Foi bem bacana de fazer. Ganhamos prêmios e fomos bem recebidos por esse Brasil a fora. Eu recebia uma pá de correspondências, mas fui super desleixado nas respostas, ou melhor, nas não respostas. Vacilei. Desculpem-me. Eu não tinha essa cultura de enviar cartas.
Foi para Peek-a-Boo que o Rodrigo adaptou um argumento meu para quadrinhos. Ele mesmo fez o roteiro, onde os personagens tinham as nossas caras. Uma história de crimes. Uma história de assassinato. Depois fizemos adaptação de As Portas do Céu, um conto de Julio Cortázar. E também um episódio de uma série que eu era o desenhista e escritor. Rodrigo foi uma espécie de artista convidado. Rá, rá, rá. Que tempos! A série era Menina Morango. Rodrigo desenhou a história Dia dos Mortos. Essa história merece um capítulo à parte.

sábado, 5 de abril de 2008

Bienal Rio 91- Ferreira, Rosa, Breccia e Muñoz


parte 4

Eu tinha outras parcerias nos quadrinhos e outros projetos. Quando essas minhas hqs com o Rodrigo Rosa não vingaram nessas editoras e revistas. Parti eu mesmo para ser o meu próprio editor, criei a Peek-a-Boo com outros o Leandro Adriano, Carlos Idiart e Ethon Fonseca. Antes tentei outra revista com outro time, com Cado, Drégus, Jerri Dias e Rodi. Era a Made-in-Brasil. Mas não curti muito o resultado da revista. Confesso muito tempo depois, que eu achei feia e fria a revista. Desculpa aí, seu Rodi. Demorei falar sobre, na época todos os envolvidos me perguntavam por que sai da equipe editorial. A razão foi essa, mas como eram grandes amigos meus, eu tive certa dificuldade de dizer o que acabo de confidenciar aqui. A Made-in-Brasil era ruim. Não tinha unidade e era fraca a maioria das histórias. A minha participação na Made foi como editor e desenhista, desenhei uma história curta do Leandro Adriano, um conto policial chamado Brio. Para alguns era motivo de risos, pois tinham como personagens principais dois homossexuais. Para outros, como o Alberto “Viejo” Breccia, com as suas críticas sobre a narrativa e o traço de Brio, era muy bueno!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Parte 3

“Tá, Meu? Tu é enrolado! Cadê Os Sertões?”

"Calma, meu chapa. Ainda tem mais pré-história antes..."

Depois de Escuro nós dois queríamos fazer mais quadrinhos juntos. A minha referência como criador de quadrinhos sempre foi o cinema, muito antes dessa onda das adaptações, dessa fixação do gênero super-heróis. Miller que me desculpa, mas essa onda noir nas hqs vem com outras jóias raras dos quadrinhos. Muñoz e Sampayo são os exemplos mais fortes para mim. Eu tinha essa mesma batida, ser um Chandler nas hqs (tanta modéstia), além do clima Noir, eu queria experimentar um outro gênero nas hqs, o horror. Seguir uma narrativa mais próxima dos filmes Iluminado e Exorcista. As hqs são formas de fazer filmes, é cinema no papel para mim.
O Brasil tem os seus mestres do terror nos quadrinhos, tem um estilo e identidade forte, mas a meu ver esses quadrinhos são fábulas barrocas. O que eu queria era fazer algo distante disso, algo mais real. Pegar um subgênero do terror, como os vampiros, e seguir para um outro caminho. Criei A Cura, liguei para o Rodrigo com a idéia de fazermos uma série em 24 episódios. Lavando uma enorme pilha de louça em casa, escutando o disco Pornography, da banda Cure, eu desenvolvi o argumento da série inteira. Rodrigo achou que eu tava viajando (normal), mas na primeira reunião onde mostrei o primeiro roteiro ele comprou a briga e fizemos três histórias, os três primeiros episódios.
A Cura é uma história de vampiros sem ser uma história de vampiros, é em parte um conto de horror naturalista, depois é realismo fantástico. Cinco garotos de rua fazem um pacto com o demônio, bebem sangue de animais para saciar a fome. Querem mudar as suas vidas, mas nada muda. Decidem beber outro sangue e... Ainda é inédita essa saga. Vasques deu alta força e estímulos para nós publicarmos essa série. Quase saiu em algumas publicações nacionais como a Mil Perigos e Animal, mas o Collor acabou com os nossos planos e sonhos.

domingo, 23 de março de 2008

Parte 2

Rodrigo se ofereceu desenhar esse texto para os quadrinhos. Marcamos uma reunião na casa dele para estruturar essa versão em quadrinhos e começamos essa parceria de décadas.

Na primeira reunião, levei um texto, uma estrutura básica de roteiro. Olhando para essa época, eu imagino que esse texto devia ser super ingênuo e com erros de português. Eu não tenho mais esse texto original, sinto por não ter.
Lembro que eu era tímido, usava um cabelão black power, sempre vestido com ternos Miami-vice e óculos. Que figura! Já o Rodrigo o mesmo de sempre, descolado. Parecia a personagem Moleza da série animada de tevê Archie Show. Rosa também usava óculos tipo Woody Allen. Essa primeira reunião foi realizada na Rua Saudável, no bairro chamado Medianeira em Porto Alegre. Foi ali que eu conheci os seus pais, são um casal supergente boa. Lembro do bolo de laranja e um nescau como lanche. Produzíamos um storyboard, uma das principais características na nossa parceria. Cada um foi apresentado a sua idéia da narrativa gráfica e depois o Rosa fez o raffs das páginas. Uma semana depois ele apareceu com a hq pronta na reunião da Grafar, quando a sede era no Clube de Cultura. A recepção desse quadrinho não podia ser melhor, surgiram possibilidades de publicação na revista Megazine, mas vingou na Dundum, no primeiro número. Na época, uma das revistas de quadrinhos nacionais mais lida graças ao polêmico patrocínio da prefeitura de Porto Alegre, gestão do PT. Só podia. Com o escândalo todos fomos acusados publicamente e judicialmente de incentivar a pornografia, fazer apologia às drogas e outras aventuras. Tal polêmica só ajudou a vender mais e ficamos super famosos na cidade. Dundum até foi editada no Japão. Mas o orgulho que eu tive mesmo com Escuro foi ver esse quadrinhos ser recrutado para uma exposição das cem melhores histórias em quadrinhos nacionais no centenário das histórias em quadrinhos. Isso na primeira Bienal de quadrinhos do Rio de Janeiro, lá em 1991. Os nossos originais foram para essa exposição que eu nunca vi montada e os mesmos originais nunca foram devolvidos.

sábado, 22 de março de 2008

AQG- a pré-Grafar.


Os Sertões- A luta.

Parte 1-

Falar sobre essa adaptação em quadrinhos é complexo. Tudo começou com a parceria entre Rodrigo Rosa e Carlos Ferreira, por sinal, essa parceria completa vinte anos. Começamos com uma história em quadrinhos chamada Escuro. Se não me falha a memória, o Rodrigo, que na época era um recém conhecido, uma amizade que fiz na AQG (associação dos quadrinhistas gaúchos), uma pré-grafar. A “AQG” era formada com os mais estranhos tipos nerds, fã de carterinha da Marvel e DC. Sim, eu já fui um desses, o Rodrigo não se escapa também. Lembro que as primeiras páginas que vi do Rosa me impressionaram muito e eu disse para o guri:

“Cara, tu desenha quadrinhos de verdade!”
Sim, na época o cara era um guri, tinha uns 14 ou 13 anos e eu uns 16 anos (super adulto!). Foi assim que nos conhecemos, mas começamos a trocar idéias quando rolou um evento que preparamos na AQG, um seminário sobre quadrinhos gaúchos com sede no colégio Rosário. Depois desse seminário houve a junção da gurizada com os mais experientes quadrinhistas e cartunistas, como Vasques e Santiago. Resolvemos todos nos juntarmos e surgiu a Grafar. Isso foi lá nos idos anos de 1987 e 1988. Foi nessa época que o Rodrigo me ouviu contar para o Jerri Dias a redação, um conto que eu fiz para o colégio, era o argumento do Escuro.