domingo, 14 de dezembro de 2008

Pé na estrada- Deixando Salvador

Uma das paisagens que chamou a minha atenção em Salvador foi um shopping e um templo de uma igreja pentacostal. Duas construções anti tudo, nada a ver com Salvador, Bahia, segundo o que eu projetava no meu imaginário. Essas duas anti bases em uma confraria de abusos apelativos de consumo e deus.
Essa Salvador nada tinha da Salvador do dia anterior. Era um fungo. Pensei em Antônio Conselheiro vendo que o sertão virou um mar de alienados. Chamou a minha atenção as duas construções por serem desproporcionais monstros, engulindo gente de tudo que era lado. O que o povo buscava ali? Que tipo de prazer? Juro que eu não entendo. Tá em um shopping eu até entro, as vezes, mas vou direto para as livrarias, ou quando as minhas roupas falecem eu vou comprar novas e um cinema básico já que acabaram com os cines de calçadas em Porto Alegre e no resto do Brasil.
A vida humana vai se desgastando. Nós, brasileiros estamos cansados e no maior desinteresse por qualquer coisa, nem futebol presta. Nunca fomos tanto no automático, mas ainda estamos vivos, zumbis, mas vivos. E quem quer mudar alguma coisa, dar algum sentido, é derrotado na loucura. Sim, estamos presos na caverna. Cegos, Saramago. Mortos, Conselheiro.
O Rosa e eu estamos já há um ano pós essa viajem aos sertões. Nossas cabeças confabulam outros projetos, esses são individuiais e outros em conjunto, normal, sempre foi assim...mas ainda estamos presos no Os Sertões. Tenho lido muitas coisas a respeito do que anda rolando com a nossa editora Ediouro, sobre o selo Agir, e sobre outras editoras que foram compradas pela Ediouro. Falo da Desiderata, Pixel que estão em banho maria. Nós, com Os Sertões, de certa forma, até estamos na geladeira. Sendo sincero, antecipando um pouco as coisas que eu falaria aqui em um outro momento... essa relação com a Ediouro é rara. As coisas andam bem incertas, aguardamos o Rosa e eu certas definições editorias para saber o que de fato vai rolar.
Sinto que existe no ar uma anciedade de vender quadrinhos de uma forma rápida e com lucro garantido. As grandes editoras não querem preju, e como diz o Rosa:
"Quadrinho nacional não vende".
Será que Os Sertões precisa virar uma versão mangá como a turma da Mônica adolescente? Essa é a receita de fama e fácil vendas?
Lembro quando eu estava na periferia de Salvador e olhava para as gigantes favelas, eu pensei que para aquela gente, talvez para o Brasil inteiro pouco importa Os Sertões, os quadrinhos, cultura...que porra é essa?
Talvez o Rosa tenha razão em dizer que quadrinhos brasileiros não vende, não existe porra nenhuma de mercado, nunca vai exitir. É mínina a quantidade de gente que lê nesse país, eu mesmo quase não compro quadrinhos. Nem quero, torro grana em dvds e livros, quadrinhos só em saldos na feira do livro de Porto Alegre ou em sebos. Mas sou louco enquanto escrevo e faço quadrinhos, acredito que o Rodrigo também. E quando produzimos estamos dando o nosso melhor, a narrativa é o que mais laburamos com textos e desenhos de uma forma precisa, sem buracos e sem explicar muito. Vi que com Os Sertões atingimos uma puta maturidade como artistas e autores. Concluímos a nossa parte no livro, mas há uma nuvem negra no horizonte.