quinta-feira, 17 de julho de 2008

Qg Cau



Nossos heróis preparam a jornada para aventura. Cau Gomez e Cao Ferreira

terça-feira, 15 de julho de 2008

Parte 19

Eu em Porto Alegre sentia uma distância temporal de mais de um século de Canudos, mas em Salvador isso começou se dissolver. Era visível o sofrimento e indignação nos rostos que eu capturava sob o meu foco de visão. Cada rosto do povo era uma marca represada e hereditária dessa angustia submersa. Direta e indiretamente um eco de uma liberdade almejada, mas nunca atingida. Posso dizer que naquela manhã eu comecei depois de trinta e sete anos, a entender o que é a minha brasileiraridade. " Salvador...foi aqui onde tudo começou. Os primeiros visitantes europeus pisaram neste mesmo chão. Santa Cruz começou aqui, Brasilis, brasas do Diabo. Bafo do inferno. Sim, esse é o nosso país, o pau Diabo. Pau mandado do Diabo, ou pau do Diabo. As caravelas chegam com o que existe de mais podre dos sentimentos humanos. Séculos depois basta olhar tudo envolta, seguir caminhando nas ruas, ouvir as tevês ligadas e sentir a corrupção, a violência e a mentira. Quanta merda é vomitada por dia? Quantas mortes ainda prosseguem dessa guerra?" Aí eu já estava um pouco bêbado.
Rodrigo perguntou:
" Em que mundo tu tá, sonhador?"
" No Brasil."

domingo, 13 de julho de 2008

Parte 18

"Cara de sapo!"
Foi o que ele disse. Eu ainda não conhecia essa expressão. Mas com o olhar que ele dirigia para o outro lado da rua, vi que se tratava de uma mulher ou de um detalhe de uma mulher.
Eu disse:
"Cara de Sapo? Mas o que significa?"
E o marinheiro ri.
"Nunca provou uma cara de sapo?"
E Cau fala:
" Esses são amigos meus lá do sul. São gaúchos. Esse é o Rodrigo e o Lenin ali é o Carlos. São desenhistas e vão fazer uma história em quadrinhos sobre a Guerra de Canudos."
" Canudos?"
A vez do Rodrigo:
" Sim, estamos adaptando Os Sertões para quadrinhos, viemos fazer pesquisa e pretendemos ir até Canudos."
" Canudos? Mas Canudos não existe mais... tá embaixo da água."
Rodrigo continua:
" O Senhor sabe como é lá? Já esteve na região?
" Nunca, não sei nada não. Mas sei que foi palco de desgraceira e que essa desgraceira persite aqui na Bahia até hoje. O povo ainda morre de fome".

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Parte 17

Nenhuma estratégia. Nada de Ordem. Nada metodico. Foram dois quadrinhistas gaúchos com a pretenciosa idéia de investigar e pesquisar o sertão da Bahia em busca de informações reais sobre a Guerra de Canudos, Euclides da Cunha e Antônio Conselheiro.
Acordei naquela quinta-feira na exata 24 horas pós saída de Porto Alegre.
A primeira coisa que Rodrigo, Cau e eu fizemos foi buscar um boteco aberto para mais uma rodada de cerveja. Uma rodada leve. Uma cerveja antes do almoço é muito bom para ficar pensando o melhor.
Saímos do apartamento do Cau e começamos a descer ruas que pareciam serpentes em movimento. Um zigue-zague para lá e para cá. Paramos em uma garagem transformada em boteco. Um tiozinho clássico, sem camiza e calção adidas paraguay, pinta de marinheiro que já viajou por todos os cantos do universo, mas que agora tinha encontrado o seu lugar. Aquele boteco fedia horripilantes, contraditórias e engraçadas histórias. O nome do velho era João. Nos serviu uma estúpida, mas põe estúpida cerveja gelada no calor humido quente e disse:

terça-feira, 8 de julho de 2008

Parte 16

Caminhamos até o estacionamento do aeroporto. Entramos no Caumóvel. Fogo saindo da turbina. Alta velocidade nas avenidas. Um calor do cão, céu nublado, 1 hora da matina à procura de um boteco.
Essa era a minha primeira vez em Salvador. Cidade mitológica para o meu pai. Eu fui absorvendo as favelas, as curvas e o que via do povo na rua. Os guris hablavam. O quê? Puxa, eu não lembro, mas acho que fazíamos um resumo de um pouco de tudo, sobre o projeto, Porto Alegre, Salvador, a viajem.
Essa foi a primeira vez que conversei com o Cau. Nós ainda não nos conhecíamos. Rogério eu já conhecia. Uma vez ele foi hóspede do Rodrigo. Na época que o Rodrigo morava no mesmo prédio que eu. Rogério é um sujeito peculiar. um dos grandes cafas, é mestre.
Deu saudades desses chapas!
Achamos um boteco. Tomamos uns tragos. Olhos caçadores buscavam as flores baianas. O cérebro super ligado. Rogério já se entrelaçava ali mesmo. Ceva vai e ceva vem. O restante do esquadrão com fome. Comemos uma muqueca bem apimentada em um outro bar. Cadê o Rogério?
Caso você tenha entrado neste blog à procura de um texto mais objetivo e técnico sobre Os Sertões... Amigo, endereço errado. Aqui esses momentos de amizade contam no processo de criação do livro.

domingo, 6 de julho de 2008

Parte 15

Então...a aventura começou. Fomos em companhias e aviões diferentes, mas embarcamos no mesmo dia. Rodrigo viajou duas horas na minha frente, mas ficamos em contato por celular. Eu fui depois por que tinha que receber um cachê antes e precisava dessa grana para a viajem. Aproveitei umas barbadas que tenho em uma dessas empresas aéreas brasileiras e comprei passagens para Salvador, São Paulo e Florianópolis. Eu tinha objetivos e missões diferentes em cada uma dessas cidades e em seus respectivos estados. Isso foi em novembro de 2007.
Missão Salvador:
Pesquisar sobre a chegada de Euclides da Cunha em Salvador, descobrir detalhes sobre o processo de pesquisa que originou o livro Os Sertões. Ir em museus e entrevistar os pesquisadores e antropológos especializados em Canudos. Juntar o maior acervo possível de imagens da guerra de Canudos e do exército da República. Fotografar e fazer videos da região.

O meu avião decolou e durante um mês vivi uma intensa aventura. Por favor, não façam a imagem do Rodrigo e a minha como uns Indiana Jones, estamos mais para uma versão tupiniquim de Homer Sinpson e Salsicha em Queimando Tudo. É sério, viajar com o Rodrigo é uma das experiências mais engraçadas que eu conheço. O cara é um baita parceiro e uma grande figura.

Antes de chegar em Salvador eu fiquei umas doze horas fazendo conexão em São Paulo. Doze horas perdidas em Congonhas e Guarulhos. Como era uma quarta-feira, os meus amigos em São Paulo estavam trampando... eu só liguei para a minha amiga de fé Carolita, para contar as novidades e dizer sobre a aventura. Ver se seria possível uma jantinha, mas o meu prazo na cidade era curto, os nossos horários não correspondiam. Fiquei em Guarulhos até umas 22hs e 30 mins, depois outra vez no ar.
Quando o avião pousou estavam a minha espera todo o esquadrão: Rodrigo Rosa, Cau Gomez e Rogério Ferrari. Na minha cabeça de maluco começou a tocar uma trilha sonora de Ennio Morricone. The Good, The Bad and The Ugly.