terça-feira, 22 de abril de 2008

Parte 6

"Dia dos Mortos" era o episódio final da primeira temporada da Menina Morango. Rodrigo e eu estávamos ministrando uma oficina de quadrinhos no colégio Mauá. Os encontros eram nos sábados, nas manhãs. Lembro dessa época ser cômica. Houve dias super engraçados, movidos a garotas, drogas e rock and roll. Tinha uma aluninha que era uma coisinha, o seu nome Suzana. Por coincidência é filha da minha professora do primeiro ano do primeiro grau, atual ensino fundamental. Chegamos até a ir ao cinema com ela e ver Batman Returns. Sessão hilária no finado cinema Baltmore 1. Nenhum dos dois panacas agarrou a mina. Bom, eu nem podia por que tinha namorada. Que picaretas! Aulas de quadrinhos para agarrar as mulheres. Melhor não falar sobre isso agora...
Acontece que de tanto falar sobre quadrinhos nessas aulas resolvemos arriscar e fazer uma hq totalmente no improviso na sede Rosa. Já éramos nessa época muitos amigos. E com certeza isso influenciou o resultado do nosso trabalho em conjunto. Temos muitas afinidades, uma forte admiração pelo quadrinho argentino. Fierro. Corto Maltese, Breccia, Torpedo. Muñoz e Sampayo.
Partimos para uma conversa sobre os nossos processos de criação e desenho. Uma vez o Vasques definiu que o Rodrigo era um desenhista de fatos e eu de clima. Isso foi mencionado, também falei de como desenhei a primeira história da Menina Morango. Experimentamos esse processo com o Dia dos Mortos. A idéia era desenhar um quadrinho e depois o outro sem ter um roteiro pronto. Seguir os planos desenhados e ver o que podia ser contado. Considero esse um dos melhores trabalhos. Em minha opinião, os desenhos do Rodrigo são os melhores. Saiu tudo no lugar certo. É um trabalho coeso, super climático e até mesmo poético. Sem ser piegas. Essa história foi a melhor experiência em conjunta. Acho que a grande força dessa unidade na parceria começa com a dedicação que temos em querer contar uma história com o pé no clássico. Rodrigo com o desenho e eu com o texto. Mesmo com a presença do surrealismo, expressionismo ou aquilo que alguns chamam de viajem; buscamos contar no ritmo certo com início, meio e fim. O que importa é contar uma história e não quem conta essa história.
Eu não lembro depois se vieram outras histórias curtas, acho que sim, mas inacabadas. Para ser bem sincero, eu quase não lembro o que aconteceu entre 1993 há 2000. Essa é uma época turbulenta na minha vida. Lembro que uma noite eu entrei no bar Garagem Hermética e foi como entrar na toca do coelho. Eu desci as escadas circulares até o inferno.

sábado, 12 de abril de 2008

Parte 5

A Peek-a-Boo era oposta da Made. Tinha unidade e calor. Usamos temáticas a cada edição. Acho que a primeira foi o crime, a segunda o surreal, a terceira às mulheres. Mas tudo acontecia de uma forma sutil. Eram histórias que flertavam mais com a literatura. Foi bem bacana de fazer. Ganhamos prêmios e fomos bem recebidos por esse Brasil a fora. Eu recebia uma pá de correspondências, mas fui super desleixado nas respostas, ou melhor, nas não respostas. Vacilei. Desculpem-me. Eu não tinha essa cultura de enviar cartas.
Foi para Peek-a-Boo que o Rodrigo adaptou um argumento meu para quadrinhos. Ele mesmo fez o roteiro, onde os personagens tinham as nossas caras. Uma história de crimes. Uma história de assassinato. Depois fizemos adaptação de As Portas do Céu, um conto de Julio Cortázar. E também um episódio de uma série que eu era o desenhista e escritor. Rodrigo foi uma espécie de artista convidado. Rá, rá, rá. Que tempos! A série era Menina Morango. Rodrigo desenhou a história Dia dos Mortos. Essa história merece um capítulo à parte.

sábado, 5 de abril de 2008

Bienal Rio 91- Ferreira, Rosa, Breccia e Muñoz


parte 4

Eu tinha outras parcerias nos quadrinhos e outros projetos. Quando essas minhas hqs com o Rodrigo Rosa não vingaram nessas editoras e revistas. Parti eu mesmo para ser o meu próprio editor, criei a Peek-a-Boo com outros o Leandro Adriano, Carlos Idiart e Ethon Fonseca. Antes tentei outra revista com outro time, com Cado, Drégus, Jerri Dias e Rodi. Era a Made-in-Brasil. Mas não curti muito o resultado da revista. Confesso muito tempo depois, que eu achei feia e fria a revista. Desculpa aí, seu Rodi. Demorei falar sobre, na época todos os envolvidos me perguntavam por que sai da equipe editorial. A razão foi essa, mas como eram grandes amigos meus, eu tive certa dificuldade de dizer o que acabo de confidenciar aqui. A Made-in-Brasil era ruim. Não tinha unidade e era fraca a maioria das histórias. A minha participação na Made foi como editor e desenhista, desenhei uma história curta do Leandro Adriano, um conto policial chamado Brio. Para alguns era motivo de risos, pois tinham como personagens principais dois homossexuais. Para outros, como o Alberto “Viejo” Breccia, com as suas críticas sobre a narrativa e o traço de Brio, era muy bueno!