sexta-feira, 30 de maio de 2008

Parte 9

Enfim, Os Sertões.
O processo de negociação foi um labirinto. Rodrigo tinha ido viver em Barcelona, o nosso editor mora no Rio. Eu em Porto Alegre pré-produzindo outros trabalhos. Quando começamos a definir o valor para o projeto, cada parte falava uma língua. Produzimos páginas de mostra que não foram aprovadas e Os Sertões parecia escorregar sobre as nossas mãos. Rodrigo tinha desapegado, eu não. Sabem o que é ver a possibilidade de um sonho de décadas, que é o principal sentido da vida, ver esse sonho anunciar que vai acontecer e depois virar fumaça? Eu aguardo a realização de um álbum, como um adolescente virgem aguarda a primeira amante. O álbum é um livro! Uma referência real de um autor. Senhores, fazer quadrinhos pode ser divertido, um negócio para fazer grana na cabeça de muita gente. Principalmente nas cabecinhas desses desenhistas gado de curral dos caubóis gospel usuários de cueca sobre colante dos EUA. Mas para mim, fazer quadrinhos sempre foi algo mais nobre. Um processo metafísico, algo que dá sentido a minha existência. As energias que ponho em um projeto são de reflexão e transformação. Nunca pensei em realizar Os Sertões por grana. Claro que é importante também, mas tudo na vida é um segmento de eventos. Isso explica por que comecei a falar antes sobre a origem da parceria que tenho com Rodrigo e outras coisas. Em certo ponto houve um desgosto do Rodrigo com o projeto e ele pulou fora. Dando liberdade de eu decidir o que queria.
Imagino que quando se está na Europa diversos valores vão sendo questionados e vão mudando. Nós não somos mais guris, eu, por exemplo, sou pai de família e não posso me dar ao luxo de devaneios artísticos e fazer as coisas baratas, mas quando é feito um convite de tal proporção sabendo que eu não teria que arcar com custos... Decidi seguir com o projeto e a editora Agir queria a mesma coisa. Fiz a minha versão de Os Sertões.

2 comentários:

Unknown disse...

Continue, Ferreira, essa história está bem interessante! Legal vc abrir que a coisa teve altos e baixos - normanlmente, tentam nos convencer de que, trabalhos que chegam a luz da publicação, são odisséias de sucesso do começo ao fim!
Aguardo mais!

Abraço,
F. Mena.

Carlos Ferreira disse...

Mena,
Bacana.
É, nem os contos de fadas são odisséias de sucesso do começo ao fim.
Tudo na via é um trabalho do cão.

Grande abraço.