domingo, 29 de junho de 2008

Cau Gomez



Brilhante cartum do mestre mineiro baiano!

Rogério Ferrari


Essa fotografia é uma mostra da arte do gênio Rogério.

Parte 14

A brilhante idéia de ir para o sertão da Bahia foi do Rogério (logo vocês vão saber quem é essa personagem).
“Cara, o Rogério disse que devemos ir para a região de Canudos. O que acha?”
“Rodrigo, sou parceiro dessa aventura”.
“Tenta ver com a editora se eles nos pagam a viajem”.
“Rodrigo, não viaja”.
“Não custa tentar”.
Eu enviei um e-mail já sabendo a resposta. Não houve resposta desse e-mail. No seu caderno de desenhos, Rodrigo fazia esboços de Antônio Conselheiro. Esses desenhos eram bem bacanas, mas sabíamos que ainda não tínhamos achado a essência do personagem. Geralmente Antônio Conselheiro é representado como um clichê de beato louco, mas nós, Rodrigo e eu, não queríamos seguir essa visão careta. Longe de nós essa caricatura de José Wilker chapadão de cactos e com dor de barriga.
Queríamos o nosso Conselheiro, um ser humano, buscar o homem comum, a história clássica brasileira criou o clichê louco Conselheiro, vejo que uma das nossas missões era derrubar essa visão e tentar trazer para o livro a memória popular que o povo nordestino tem do seu Conselheiro.
Convenci o Rodrigo que devíamos para de esperar uma resposta e seguir com o plano da viajem. Rodrigo fez contato com os nossos parceiros em Salvador. Eu Falo de Rogério Ferrari e Cau Gomez.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Ruptura

Eu não sei o que me passa, mas sinto neste exato instante uma grande vontade de gritar...

Estou convencido que jogo o jogo errado, o problema é que esse jogo possui regras sujas... e parece que a verdade importa para poucos. Seria isso uma teoria de conspiração das mais paranóicas? Estarei eu louco? Confesso que me sinto perdendo a juvenil paixão por fazer quadrinhos, já não tenho o tesão de entrar no meu estúdio e desenhar. Sigo fazendo desenhos, textos e filmes. Mas é quando eu paro para compor no computador, é quando eu crio as minhas músicas, que eu sinto prazer. Quando queremos respostas sobre o processo de criação, quando queremos público, queremos na verdade os sons. O urro da multidão se propagando para a expansão do universo. Talvez seja por isso que eu sinto prazer com a música, por que quando eu crio música eu desenho um gráfico no programa que uso e a resposta vem, o som passa e sou absorvido por camadas e camadas de texturas que trazem uma resposta subjetiva a minha alma. Eu que me considero um ateu, confirmo aqui que tenho alma por que no fundo é para isso que crio. Para sentir a textura da minha verdadeira essência, me desprender do tempo e espaço. Um jogo de ego, um ego-caos. Uma comprovação que eu estou vivo. Estou aqui. E tudo que eu crio é um sinal para aquele monolito negro que vi vagando no espaço no filme 2001. Claro que trato esse monolito como metáfora, dizem que os cientistas estão tentando criar o silêncio absoluto em um laboratório. Talvez seja a busca perfeita para a humanidade, já que estamos no ápice da era dos ruídos.
Estou convencido que perdemos o jogo...voltando falar sobre quadrinhos, estou convencido que o que importa nesta era de ruídos são as embalagens, os grupos de boné e com os selos Marvel e Dc estampados no cu.
Pra quê? O negécio é forrar os intestinos de dólares e euro? Discutir como se deve fazer arte, enquanto o planeta vai armando as suas defesas contra essa espécie irresponsável que somos nós?
Qual é o sentido disso tudo? Qual é o sentido de desenhar e fazer super-heróis? Não quero expressar aqui que sou um santo, um alienado desse sistema corrupto. Sou mais um...mais um que falha e pensa em sempre melhorar, mas falha em deixar para o dia de amanhã.
Basta!
Para a corja eu digo que os seus dias estão contados.
Vão à puta que os pariu!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Parte 13

Não bastava ler só Os Sertões, a minha obsessão foi ler o máximo de livros sobre a Guerra de Canudos, devo ter lido uns dez livros sobre, Rodrigo algumas vezes indagava porque ler outros livros, digamos que eu queria ter uma visão abrangente de como foi essa guerra, como eram as pessoas envolvidas, a época e a região. Mas antes de qualquer coisa eu queria saber como fugir do trash filme “A Guerra de Canudos”. Alguém aqui já viu esse filme? É uma escola de como essa história não deve ser contada e tratada.
Rodrigo e eu fizemos uma sessão aqui em casa, deu até um certo desespero e vergonha de estar vendo aquilo. A música do filme é um porre.
Não há dúvida que Os Sertões serviu de base para o filme. Eu não tenho nenhuma dúvida que o filme é uma adaptação não oficial. E em certos momentos aquele exemplo de adaptação literal era um cacoete dos mais chatos.
Terminamos os dois de ver o filme com um ar de depressão. Rodrigo:
“Fodeu. Como é que tu vê essa nossa versão de Os Sertões, Carlos?”

Expliquei a minha teoria de Cronenberg e acrescentei:

“Vamos invocar Sérgio Leone. A narrativa tem que ser próxima dos filmes de Leone. O Começo tem que ter o mesmo peso de Era Uma Vez no Oeste”.

Alguém aqui já viu esse filme?

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Parte 12

“Naked Lunch! A Adaptação cinematográfica de David Cronenberg do livro de William Burroughs.” Ouvi a minha própria voz dizer isso enquanto eu dormia. Eu sou desses que cochilam para processar idéias. É outro dos meus hábitos: Tentar o máximo possível me distanciar da realidade comum, ir para uma espécie de sala de cinema dentro da minha mente e ser o primeiro espectador do que vou criar.
Cronenberg, na época que ele recém havia dirigido Naked Lunch, disse:
“ É basicamente impossível de adaptar Naked Lunch” - Almoço Nu, traduzido aqui no Brasil com o título de Mistérios e Paixões.
“Era muito conteúdo literário para 2 horas de filme, mas a adaptação tem que ser feita.”
“ A raiz do livro nasceu das entranhas e experiências vividas por William Borroughs, foi o que germinou o livro. É isso o que vou filmar.”
Cronenberg narrou na película o processo de criação do livro e fez um dos mais impressionantes filmes e fiel adaptação. Fiel não como passos marcados dos parágrafos para as celulóides, mas em essência e valor artístico. Cinema e Literatura são duas artes com linguagens diferentes. Toda adaptação cinematográfica que é quase uma transcrição do livro, eu acho no mínimo idiota. Todas essas falham como obras artísticas por que rejeitam explorar o potencial da linguagem cinematográfica como narrativa. Não basta pegar os capítulos, personagens e diálogos de um livro e ligar a câmera. O olhar e a leitura é o que tem força. A transformação que exerce o livro sobre o leitor é o que vale capturar na adaptação. Se não for esse o caminho, o melhor é desistir antes de começar por que a adaptação vai ser oca, vazia, apenas uma propaganda extensa de um livro, feito para aqueles que têm preguiça de ler a obra original. Acredito que essa regra é também para as adaptações da Literatura para os Quadrinhos.
Para começar o roteiro de Os Sertões eu capturei essa atitude do Cronenberg para mim. Parti para as pesquisas e...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A Maldição dos Maragatos- roteiro e direção de Carlos Ferreira

Parte 11

Recebemos o contrato, começamos a luta. Rodrigo voltou para o Brasil, ao mesmo tempo em que eu comecei diversos trabalhos que tinham a mesma escala de responsabilidade que Os Sertões. Entre esses um novo episódio para a série da RBSTV, Histórias Extraordinárias, a Maldição dos Maragatos. Outra vez a Revolução Federalista era pauta, a lenda tinha como uma das personagens o Moreira César. Uma personalidade do exército Republicano, comandou a Chacina de Anhatomirim. Anhatomirim é uma ilha, palco onde aconteceu o fim dessa revolução. Onde duzentas pessoas foram degoladas, enforcadas e fuziladas firmando a tirania do “Marechal de Ferro” Floriano Peixoto. Episódio histórico que mudou o nome da cidade de Desterro para Florianópolis. O Coronel Moreira César também liderou a terceira expedição para Canudos. Era também personagem de Os sertões.
A primeira coisa que eu fiz depois de assinar o contrato foi comprar o livro Os Sertões. Eu já tinha recebido um pdf do editor, lido o livro, mas precisava reler e fazer as minhas anotações. A primeira impressão que eu tive foi que era uma obra inadaptável. Eram 632 páginas de literatura para 62 páginas em quadrinhos já estabelecidas pela editora. E agora? O que faço? O Rodrigo e eu já tínhamos apresentado um teaser de dez páginas, foram reprovadas. Foi uma trabalheira fazer aquelas páginas. Mas bola para frente. Adaptar Os Sertões era uma missão impossível, mas...

Parte 10

Não. Os Sertões não foi uma proposta sem dinheiro, a editora Agir não queria apenas pagar os custos de impressão do livro. Foi uma oferta interessante, mas para uma produção conjunta ela não funcionava bem. A versão que fiz agradou uns, mas não outros do grupo editorial. O que a editora queria mesmo era ver Os Sertões igual aos Degoladores. Não só ritmo e narrativa, mas o traço. Então voltaram atrás e eu cansado, pois já tinham passado meses de negociação.
As páginas que eu apresentei foram consideradas “over”. Ainda não entendi o que isso quis dizer, mas tudo bem. Então, vi que o Rodrigo estava certo. Era necessário negociar e se impor com dignidade. Fiz uma nova proposta e estipulei um acordo entre a editora e nós. Aceitaram. O Rodrigo não acreditou que conseguimos vingar.